segunda-feira, 28 de março de 2011

Livro: A Terceira Margem – Ignacy Sachs

A Terceira Margem – Ignacy Sachs – 1p. – (nov.09)

cia_letras_terceira_margemA Terceira Margem: em busca do ecodesenvolvimento
Ignacy Sachs / Ed. Companhias das Letras São Paulo 2009


Ignacy Sachs tem, neste ano de 2009, 81 anos de idade. Independentemente da sua impressionante vitalidade criativa, é um pedaço de história. Na realidade, através do seu estudo autobiográfico, é todo o panorama de evolução das ciências sociais que se descortina, basicamente da II Guerra Mundial para cá, na ótica da esquerda, e com o enfoque tão importante dos que buscam alternativas sem acreditar em catecismos. É claramente uma pessoa que tem buscado aproveitar todas as oportunidades para fazer avançar uma agenda progressista.
Bem escrito e bem editado, este livro se lê num fim de semana, forma simpática de fazer um zoom histórico, forma prática de vermos em perspectiva os males que enfrentamos hoje. O que melhor relacionado do que a batalha de Sachs pelo “ecodesenvolvimento” na conferência de Estocolmo em 1972, e a nossa batalha presente pela redução do aquecimento global e a conferência de Copenhague? É a continuidade dos desafios.
A “terceira margem” do título vem da própria trajetória do autor, que viveu o suficiente no socialismo burocrático da Polônia, colaborando com Kalecki e outros, para ter uma visão crítica deste processos; e que vive no capitalismo atual que o deixa ainda mais crítico. Há, segundo Sachs, muitas soluções numa “terceira margem” que aproveite diversos aportes. São novos rumos que temos de buscar e construir.
Algmas pérolas, como “tira-gosto”:
Sobre a teoria: “É muito fácil promover grandes debates maniqueistas entre o bem e o mal. Mas os verdadeiros problemas começam quando devemos formular propostas concretas de ação, portanto no exercício do que chamo voluntarismo responsável. Alguns chamam a isso pragmatismos. Que seja.” (118)”
Sobre o consumo: “Quanto é suficiednte? É uma questão muito gandhiana que traz à baila os dois últimos séculos da filosfia social dominante no Ocidente. Pois, com poucas exceções, os pensadores liberais e os marxistas concordam em ver na escalada ininterrupta de aspirações, necessidades e consumo, um critério de progresso…Todas as atividades humanas têm um substrato físico e energético, e portanto ecológico, do qual é impossível abstrair”.(259)
Sobre o papel do Estado: “Meu interesse pela economia social deriva de minha fidelidade ao papel do Estado, enxuto, desburocratizado, limpo mas ativo, do respeito por certo planejamento descentralizado e não autoritário, sobretudo, das diferentes formas de cooperação que a sociedade civil pode e deve experimentar”. (267)
Sobre o papel do território: “Penso que devemos atentar para a boa articulação dos espaços de desenvolvimento, do local ao planetário, passando pelo regional e pelo nacional. Devemos tomar como ponto de partida o planetário e descer progressivamente para o local? Ou, ao contrário, partir do local e subir ao global? A interação entre esses dois procedimentos é essencial para o estabelecimento de um sistema de regulação eficiente”. (268)
Sobre a organização do tempo: “O estudo comparativo dos modelos culturais da utilização dos tempos é um magnífico campo de trabalho, abrindo uma perspectiva para a diversidade cultural e as margens de liberdade que um dia se oferecerção a nós quando conseguirmos reduzir de modo controlado a obrigação de trabalho heterônimo. E conseguirmos uma reorganização flexível dos tempos de vida, um outro recorte do dia, da semana e do ano de trabalho”.(269)
Sobre a social-democracia: “Infelizmente, construimos uma Europa mais thatcheriana, enfeudada na idéia da concorrência e pregando a privatização dos serviços públicos. Isso se fez num momento em que a maioria dos paíse da Europa ocidental era governada por partidos que se identificavam com a social-democracia. É preciso gritar em alto e bom som que deixamos escapar uma chance histórica de constuir a Europa social, uma Europa que seria administrada com outros princípios que não os da economia de mercado desenfreada”. (274)
A articulação dos desafios urbano e rural: “Já não se sabe onde acaba o campo e onde começa a cidade, a supor que esse enfoque dicotômico tenha sentido…Seria preciso empregar o termo “urbanização” de modo mais rigoroso e estrito, reservando-o aos que têm um teto, um emprego decente e a possibilidade real de exercíco de cidadania.” (286)
Como outros autores cujos aportes temos sistematizado no nosso ensaio “Democracia Econômica”, Ignacy Sachs articula as dinâmicas e potenciais que abrem as novas tecnologias, as formas renovadas de gestão social, e os indispensáveis valores éticos que temos de incorporar nos nossos processos decisórios. (L. Dowbor)

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